segunda-feira, 18 de maio 2009
Apenas para relembrar de que, o barulho do Álvaro Dias é fogo de palha, apenas para tentar marcar "estrada para uma futura candidatura ao governo do Paraná"
A CPI da Petrobras e o tiro no pé dos tucanos
Cena 1.
Belo Horizonte, 17 de maio de 2009, churrasco de classe média. Surge o
tema Petrobras. As diatribes se repetem com tremenda virulência: E essa roubalheira na Petrobras?, e esse cabide de empregos da Petrobras?, e por que a gasolina não é mais barata? Um dos presentes aproveita uma brecha e lança a pergunta: pessoal, qual era o valor de mercado da Petrobras em 2002 e qual é o valor dela hoje?
Silêncio sepulcral. Não tinham sequer um número para chutar. Sentindo
que havia encaixado um jab, o visitante incômodo lança mais uma
pergunta: pessoal, como se chama mesmo o presidente da Petrobras?
Outro silêncio desconfortável de uns 20 segundos. Com duas simples
perguntas, desnudava-se a ignorância da República
Morumbi-Leblon-Belvedere, eterna repetidora dos factoides Globo-Veja. O
visitante incômodo decide não tripudiar e deixa que o silêncio faça seu
trabalho.
Cena 2. Belo Horizonte, 15 de maio de 2009. Algumas
horas antes da aprovação da CPI da Petrobras, o humilde zelador de um
prédio ajuda um professor universitário expatriado a recarregar a
bateria de seu Escort, parado há meses. Conversa vai, conversa vem, o
zelador dispara: Professor, esses caras aí que estão implicando com a Petrobras não são os mesmos que queriam vender ela uns tempos atrás?
Confirmando, ao ouvir essa pergunta, que o poder de manipulação da
mídia brasileira é cada vez menor, o dono do Escort retruca: Sim, seu Damasceno, são os mesmos filhos da puta que queriam vendê-la.
Em janeiro de 2003, na transição de FHC para Lula, o valor de
mercado da Petrobras era 15 bilhões de dólares. José Eduardo Dutra
assumiu então a presidência, deixando a empresa em junho de 2005 com um
valor de mercado de 54 bilhões. Em 2006, já sob a presidência de Sergio
Gabrielli, o valor da Petrobras era 70 bilhões. Em novembro de 2007, a Petrobras valia 222 bilhões de dólares.
Em 2006, o Brasil alcançou a autossuficiência em petróleo e a Petrobras bateu o recorde
latinoamericano de lucros. Em 2007, realiza-se no Brasil a maior
descoberta petrolífera do planeta nos últimos 30 anos. Em 2008, a
Petrobras já era a terceira mais lucrativa da América. Em 07 de maio de 2009, 8 dias antes dos tucanos aprovarem sua CPI, a Petrobras havia saltado do octogésimo-terceiro para o quarto lugar entre as empresas mais respeitadas do mundo.
Os tucanos não conseguiram privatizar a Petrobras, mas conseguiram
quebrar o monopólio estatal, com a famigerada lei 9.478/97. Os que têm
idade suficiente para se lembrar de 1995 recordarão a intensa campanha
de difamação de que a estatal foi vítima, incluindo-se, claro, a
indefectível “reportagem” da Veja, com 10 páginas de calúnias que não
respeitaram sequer o direito de resposta, mesmo como matéria paga. Em
1999, FHC substituiu seis diretores da Petrobras no Conselho de
Administração por seis conselheiros do setor privado, em mais uma
tentativa de preparar o terreno para a privatização. Além de quebrar o
monopólio estatal, a gestão tucana vendeu 36% das ações da Petrobras na
Bolsa de Nova York por menos de 10% do seu valor real. Fixou a
participação da União na produção de petróleo entre 10% e 40%, enquanto
os países exportadores têm a média de 84% de participação. As
informações contidas neste parágrafo estão disponíveis na leitura que o
Biscoito mais enfaticamente recomenda sobre o assunto, a entrevista do presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras, Fernando Siqueira, concedida em janeiro, na qual ele já previa o rumo dessa campanha entreguista.
Não gosto de fazer previsões em política, mas acho que o PSDB acaba
de dar o maior tiro no pé da sua curta história. A Petrobras ocupa, no
imaginário do povo brasileiro, um lugar incomparável ao de qualquer
outra estatal, mesmo o Banco do Brasil. Temos orgulho dela.
Fizemos, faz muito pouco tempo -- 50 anos, em história, não é nada --,
uma campanha gigantesca para defender nosso petróleo. O PSDB, de olho
nas eleições – e o papel de um partido político é ficar de olho nas
eleições, não há nada de errado nisso –, acaba de criar as condições
para ser definitivamente associado ao entreguismo. Nessa marcha, a
expressão social democracia na sigla tucana soará tão irônica
como o novo nome escolhido pelas oligarquias pefelês para sua
agremiação. A pergunta do Seu Damasceno, feita enquanto ele me ajudava
com a bateria do carro, me encheu de esperanças e energias. A política
vale a pena. É o nosso patrimônio que está em jogo.
PS 1: Um blogueiro que muito admiro, Alon Feuerwerker, sugere, em seu mais recente post,
que CPIs são instrumentos de luta política, que pouco têm a ver com
motivos reais. Corretíssimo. Alon também sugere que, estivessem
invertidos os papeis, o PT assinaria o requerimento de CPI. Talvez. Mas
o fato inconteste é que há um conjunto de forças políticas que
trabalharam e trabalham pela privatização do patrimônio público. E há
um outro conjunto que, com todos os problemas, têm mantido e ampliado
esse patrimônio. Confio que essa importantíssima diferença não passará
despercebida à sagaz inteligência de Alon, que assina um blog cujo lema
é um ponto de vista democrático, nacional e de esquerda.
PS 2: O blogueiro Eduardo Guimarães,
do Movimento dos Sem Mídia, está articulando um protesto em frente à
sede do PSDB em São Paulo. Esse protesto terá a colaboração e o apoio
d' O Biscoito Fino e a Massa.
PS 3: As charges vêm, respectivamente, daqui e daqui. Escrito por Idelber às 05:43 | link para este post | Comentários (139)
O que penso. Apenas eu penso!
http://oquepensabueninho.blogspot.com
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