Perigo à vista: vivandeiras do tucanato
Élio Gaspari - Élio Gaspari
|
Autor(es): Agencia O Globo |
O Globo - 13/01/2010 |
A expressão “vivandeira” veio do marechal Humberto
Castello Branco, há 45 anos, no alvorecer da anarquia militar que
baixou sobre o Brasil a treva de 21 anos de ditadura. Referindose aos
políticos civis que iam aos quartéis para buscar conchavos com a
oficialidade, ele disse: “Eu os identifico a todos. São muitos deles os
mesmos que, desde 1930, como vivandeiras alvoroçadas, vêm aos bivaques
bulir com os granadeiros e provocar extravagâncias ao Poder Militar.”
Desde o início da controvérsia provocada pelo Plano Nacional de
Direitos Humanos, sentia-se o perfume da sedução tucana pelo flerte com
a figura abstrata dos militares aborrecidos com ideia de se esclarecer
a responsabilidade pelos crimes praticados durante a ditadura. Uma
palavrinha aqui, outra ali, coisa cautelosa para uma corrente política
que pretende levar à presidência da República o governador José Serra,
que pagou com 15 anos de exílio o crime de ter presidido a UNE. Serra e
os grão tucanos conhecem um documento de 1973, preparado pela meganha
enquanto ele estava preso ou asilado no Chile. A peça vale por uma
anotação manuscrita: “Esta é a súmula do que existe sobre o fulano.
Como vês, trata-se de ’boa gente’ que bem merece ser ’tratado’ pelos
chilenos.” A rubrica do autor parece ter três letras. (Pelo menos cinco
brasileiros foram “tratados” pelos chilenos nas semanas seguintes ao
golpe do general Pinochet.) Será que Serra não tem curiosidade de saber
quem queria “tratá-lo”? A vivandagem tucana explicitou-se numa
entrevista do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao repórter Gary
Duffy. No seu melhor estilo, disse a coisa e seu contrário.
Referindo-se aos itens do Programa de Direitos Humanos que cuidam do
estabelecimento de uma Comissão da Verdade, o expresidente afirmou o
seguinte: “Este não é um assunto político no Brasil, mas uma questão de
direitos humanos, o que para mim é importante, mas o perigo é
transformar isso em um assunto político.” Assunto político, o
desaparecimento de pessoas jamais deixará de ser.
Não há como dizer que seja um tema climático. O ex-presidente foi
adiante e viu na iniciativa de investigar os crimes do Estado um fator
de “intranquilidade entre as Forças Armadas.” Pode vir a ser um fator
de indisciplina.
“Intranquilidade entre as Forças Armadas”, só se fosse uma ameaça às
fronteiras nacionais ou às reservas de petróleo do mar territorial.
Fernando Henrique Cardoso já sentiu o gosto amargo da vivandagem
quando ampliou a lei da anistia e reconheceu a prática, pelo Estado,
dos crimes da ditadura. Nesse sentido, na busca da verdade e da
compensação das vítimas (reais) da ditadura, devese mais a ele e a
tucanos como José Gregori do que a Lula e a organizadores de eventos
como Tarso Genro e Paulo Vanucchi.Não se reconhece em Fernando Henrique Cardoso do ano eleitoral de 2010 o presidente de 1995 a 2002. Muito menos o militante das causas democráticas, visto pela tigrada como um “marxista violentíssimo”. Felizmente, pode-se garantir que FHC não sentou praça na tropa da ditadura. Infelizmente, podendo mostrar pelo exemplo que há uma diferença entre os tucanos e as vivandeiras, preferiu o cálice um gole de oportunismo. |
O que penso. Apenas eu penso!
http://oquepensabueninho.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário será um ensinamento para mim.
Meu Skype:
pedro.bueno6