Serra sobre o adultério: ‘Tem que ser coisa discreta’
Sérgio Lima/Folha Numa sabatina na Confederação Nacional da Agricultura, José Serra revelou-se um sujeito liberal nos costumes.
Em essência, disse que ao homem é permitida a amante. Desde que a pulada de cerca seja bem escondidinha.
Serra discorria sobre seu novo vice, Índio da Costa (DEM-RJ). Relatou um telefonema que trocara com o deputado na véspera.
Disse que, a certa altura, Índio, como que interessado em tranquilizá-lo, contou: “Não tenho amantes”.
E Serra: “Também não precisa exagerar. O que tem que ser é uma coisa discreta".
O presidenciável tucano tinha ao seu lado uma mulher, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da CNA. Tentou remendar o soneto:
“Não estou aqui pregando pular cerca no casamento, mas também não precisa exagerar".
Vivo, Nelson Rodrigues recordaria ao candidato o adultério é via de mão dupla.
“Não depende da mulher, e sim do marido”, diria o cronista. “O sujeito já nasce marido enganado. Só as mortas não traem”.
No mais, Nelson Rodrigues concordaria com Serra num ponto: “O marido não deve ser o último a saber. O marido não deve saber nunca”.
Para desassossego de Serra, a regra do sigilo não é aplicável aos matrimônios políticos.
Tentou ajeitar para si uma chapa consanquínea, só de tucanos. E o DEM, sentindo-se traído, impôs a troca do cacique tucano Álvaro Dias pelo seu Índio.
Rendido ao inevitável, Serra revela-se agora um parceiro fiel, muito fiel, fidelíssimo. Aproveitou a sabatina para defender o novo parceiro.
Lembrou, por exemplo, que, acomodado na vice, Índio passou a ser instantaneamente apontado como ex-genro do sem-banco Salvatore Cacciola, preso em Bangu 8.
Corrigiu o dado. Segundo disse, Índio é apenas um ex-namorado de uma filha do ex-dono do Banco Marka.
"Se ele tivesse encontrado o Cacciola há dez anos, num coquetel, eles diriam: 'Companheiro de festa de Cacciola'."
Serra foi o único presidenciável a dar as caras na CNA. Convidadas, Dilma Rousseff e Marina Silva preferiram se abster do debate, que teve de ser convertido em sabatina.
Estrela solitária, o tucano aproveitou para afagar o agronegócio e pôs-se a criticar o MST.
"A agropecuária tem sido uma galinha dos ovos de ouro do desenvolvimento brasileiro", disse aos ouvidos do setor.
"Nos últimos 40 anos, [a agropecuária] conseguiu multiplicar a produtividade da terra em cerca de três vezes, ou seja, 200%”.
Vergastou a rival Dilma Rousseff e o governo que ela representa. Há setores, disse ele, que se dizem socialistas e querem o retrocesso no campo.
Os restos mortais de Karl Marx, Serra acrescentou, devem estar tremendo no túmulo.
Mencionou os repasses monetários do governo para o MST. Insinuou que o movimento é tocado à base de uma dicotomia:
Para ele, o MST prega a revolução escorado nas arcas da Viúva. “Não quero reprimir, não. Só sou contra que usem dinheiro do governo para isso, não dá."
Alfinetou Lula: “Ao governo não compete dar dinheiro de forma disfarçada. Não adianta por o boné numa hora e na outra hora tira o boné e esconder na gaveta".
A julgar pelos conceitos que exprimiu, Serra enxerga no MST uma espécie de concubina de Lula. Do tipo amante argentina, dispendiosa.
No papel, Lula está casado com os interesses do contribuinte brasileiro. Na prática, esbanja um pedaço do orçamento familiar no custeio dos caprichos revolucionários do MST.
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